sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Chega, eu não aguento mais!


Vivemos no Mundo da imaginação? Será que esta mesmice que toma conta dos jornais, TVs e revistas é uma brincadeira da mídia? Eu não agüento mais, além da incessante pseudocultura que obrigatoriamente temos que engolir diariamente, até mesmo as conversas se esvaziaram de algum sentido plausível; o que mais se discute é se a mocinha da novela das seis – interpretada pessimamente – vai conseguir ficar com o mocinho depois de voltar à vida para reencontrá-lo. Se os combustíveis estão caros, isso ninguém quer saber. Pouco sabem que o Brasil produz todo o petróleo e álcool que consome, e mesmo assim temos preços dos mais altos da América Latina. Essa nem Freud explica, imagine os economistas.
Pior ainda, a maioria não se preocupa em fazer uma análise séria do que acontece no Rio de Janeiro e São Paulo, e ficam sonhando que um mundo cor de rosa está sendo criado nas periferias esquecidas pelas autoridades. Educação? Bah! Bobagem. Entre 65 países, o Brasil ficou em 53º. E dizem: “melhorou com relação à última avaliação” (PASMEM!). Enquanto isso as políticas educacionais continuam minando a educação nacional, ao passo que os maiores interessados (os adolescentes superprotegidos e mimados, embriagados por músicas vazias produzidas por seres coloridos ou duplas sertanejo-new-wave), pouco se importam. Preferem se eximir, pois a culpa sempre é do outro, não é mesmo?

            É incrível o quão volátil é a mídia, que nivela sua programação por baixo, ao invés de exigir reflexão e servir de fulcro para o desenvolvimento crítico e cultural de seu público. Chegamos ao ponto de ver assumido o caráter alienante das novelas e mesmo assim nada mudar; tão passível se encontra a população que aceita qualquer meio de dominação. Afinal, o que dizer das palavras de um dos “mais importantes” autores de novela, Gilberto Braga, que disse o seguinte: “Não estou dizendo que uma novela precise ser idiota, mas não pode exigir reflexão demais”. Bom, o caos já está num nível tão avançado que ele pensou que idiotas somos nós!
            Enquanto isso a mesma lengalenga, ramerrão e lugar-comum. O carnaval do Brasil é a maior festa popular do mundo. O Lula não sabia. O PSDB é nossa salvação. Possuir arma é sinônimo de segurança.  Vai começar a nova novela das seis, idêntica à antiga, mas um pouco mais chata. Sou brasileiro e não desisto nunca. Político trabalha de terça a quinta. O salário mínimo não é digno. As favelas estão um caos. Copa do Mundo: me vê seis Brasil, e lá vamos nós aguentar mais uma vez as musiquinhas ufano-esportistas. Xuxa é rainha (argh) e Roberto Carlos é rei (Esse cara não é ele). O gaúcho é macho. O mineiro come quieto. Deus é brasileiro, imagine se não fosse. Bala perdida mata mais um. A pizzaria das CPIs. Corrupção. Morreram não sei quantos no feriadão. Neymar é "lindo". Ronaldo está gordo, mas na "medida certa". Os EUA são a salvação contra os amaldiçoados povos árabes. A saúde pública não funciona. Educação então, essa é melhor nem comentar. Burocracia estressante para se conseguir qualquer benefício e direito que venha do governo. 
            Quando isso vai acabar? Quem é contra essa falácia unívoca e uníssona? Quem é a favor de parar de falar nisso, pelamordedeus? Enquanto isso, parem o Brasil! Eu quero descer.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

A pretensa imprensa imparcial brasileira


 Há duas semanas atrás a revista VEJA publicou um artigo sobre a trajetória do historiador inglês Eric Hobsbawm que, junto com Thompsom, marcou uma renovação na historiografia marxista. A revista, à despeito da qualidade de produção do autor, despejou um manancial de críticas totalmente ideológicas contra ele, chegando a afirmar que, de certa forma, teria apoiado genocídios praticados por ditadores que se diziam comunistas. 
   Esse tipo de postura levanta, mais uma vez, a questão da imparcialidade da imprensa brasileira, que insiste em vociferar que trabalha nos limites da objetividade, sem adotar posturas políticas e ideológicas, mas fica patente a invericidade de tal argumentação. Trata-se de uma prática que mais desorienta do que informa o leitor, já que as diversas mídias alocam suas próprias opiniões de maneira velada, não esclarecendo seu público, muitas vezes manipulado pela retórica esmerada de jornalistas e editores. Isso denota uma atividade no mínimo desonesta, pois os editores se valem, repetidamente, da concessão pública do direito de transmissão de programas na TV aberta para conduzir o público na direção de seus interesses particulares. Isso se repete nos órgãos privados de imprensa que, embora utilizem um meio de comunicação privado independente de concessão, não se isentam de responsabilidade perante o leitor, o que demandaria postura mais justa ao conduzir informações.
   A imprensa norte-americana neste quesito merece mais respeito, afinal, assume ideologicamente suas opiniões atraindo a atenção de leitores que compartilham, conscientemente, da visão de tais mídias. Ou seja, quando um americano procura determinado periódico o faz ciente da vertente opinativa que encontrará, sem falsas e desonestas informações teoricamente imparciais. Ademais, a abertura de posicionamentos por parte da mídia faria com que o público tivesse mais capacidade de discernimento, pois poderia buscar mais facilmente todos os tipos de visões e interpretações da realidade, o que contribuiria para que formasse (quase) independentemente sua opinião.
   Esta linha de trabalho já é adotada por alguns periódicos brasileiros, mas, estranhamente, por aqui, isso se torna alvo de críticas ácidas. Nas eleições presidenciais de 2002 e 2006, a revista CARTA CAPITAL, sob a égide do editor Mino Carta, escancarou seu apoio à candidatura de Lula, o que culminou num bombardeamento sobre a publicação, como se estivesse cometendo uma heresia ao ser honesta com seu público. Isto é, no Brasil se defende a falta de clareza e a manipulação imoral do leitor em nome de uma pretensa imparcialidade e objetividade jornalística, algo impossível na essência, já que toda ação é uma tomada de postura, inclusive a falta de ação é a clara manifestação de uma opção (o não agir). 
   Deve-se levar tal discussão a setores diversos da sociedade, para que ocorra melhoramento continuado da prática de imprensa brasileira. No caso de CARTA CAPITAL, por exemplo, fica mais fácil o diálogo e as cobranças de seus leitores diante da satisfação ou insatisfação com o governo petista, já que o periódico assumiu uma linha de atuação e orientou seu público a também seguir. No caso da grande maioria da imprensa brasileira, tal debate se torna quase ausente, isto porque o público não pode cobrar os periódicos e mídias diante da realidade do país, pois esses órgãos atuaram durante campanhas empunhando a bandeira farsesca da imparcialidade... embora tenham veladamente defendido determinadas visões de mundo.
   Cabe, diante de tais argumentações, repensar a atividade jornalística brasileira, a fim de pressionar as mídias, revistas, rádios e jornais a adotarem novas práticas que, no limite, serão mais saudáveis para o desenvolvimento social da nação.   
 

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Livro "Vestígios de memória: diálogos entre literatura e história"

Pessoal,

compartilho aqui link para acessar o sumário do livro organizado por mim e pelo prof. Wellington (UTFPR\Pato Branco). Trata das relações entre literatura e história na recuperação do passado e nas produções de memória, que não é atividade exclusiva do historiador e nem da ciência.

http://www.editoracrv.com.br/?f=produto_detalhes&pid=3578

sábado, 21 de julho de 2012

A greve docente que pode "quebrar" o país (?)


          É Lamentável o cenário que se desenha nessa greve das instituições federais de ensino. De um lado um governo que nasceu e cresceu em meio a greves (sendo o Lula o grevista mais conhecido da história do país), tendo, por exemplo, como ministro da Educação, um dos fundadores da ANDES (maior dos sindicatos representativos dos docentes) e, como ministra do Planejamento, Orçamento e Gestão, Mirian Belchior, que anuncia aos quatro ventos que na Europa estão reduzindo gastos com funcionalismo público enquanto aqui, “absurdamente” movimentos pedem reajustes salariais. Se alguém tiver o trabalho de acessar o Portal da Transparência, deparar-se-á com os vencimentos da ministra, que ultrapassam com folga, já com os descontos, R$33.000. Parece fácil lançar-se à verborragia vazia, quando a sociedade não se esforça para ter o mínimo de senso crítico. Parece mais fácil ainda quando se faz parte da classe política mais bem paga de todo o planeta. E claro, não podemos esquecer que o senhor Aloísio Mercadante, ministro da Educação, anunciou aos quatro ventos, sem sequer corar seu rosto de antigo grevista, que o reajuste aos professores, no montante de R$3,9 bilhões – para 2015 -, poderia colocar em risco as finanças governamentais.
            Do outro lado a classe dos docentes (técnicos administrativos também, mas para não incorrer em elucubrações incautas, por não conhecer a fundo, não tocarei nesse setor tão importante quanto o docente), uma das únicas carreiras “esquecidas” nas reestruturações das carreiras federais promovidas pelo governo até 2008. Todas as categorias tiveram exponenciais melhorias ao passo que o trabalho docente ficou travado. Qualquer funcionário apenas com graduação hoje tem proventos consideravelmente mais altos que professores doutores. Sem mencionar que o REUNI expandiu as vagas e as universidades sem garantir a mesma expansão no financiamento da educação. Faltam professores, prédios, laboratórios, bolsas, técnicos etc. Os servidores da educação estão sobrecarregados, sem poder garantir o tripé básico para uma educação de qualidade: ensino, pesquisa, extensão. A proposta do governo apresentada no dia 13 de julho demonstra isso sem pudor algum. Tanto que ali pretendem aumentar a carga horaria em sala de aula, o que minora o potencial de pesquisa e extensão dos professores. Ou seja, no Brasil, os governantes acreditam que educação se resume a ensino, e depois não sabem porque amargamos a 88ª posição no ranking educacional mundial.
            Mas para não onerar o tempo de vocês – assim como pretensamente o investimento em educação, nas palavras dos ministros, oneraria o país -, vamos a alguns números básicos. Primeiramente tenham em mente que, o impacto, para 2015 (daqui a 3 anos), do reajuste para os docentes, de acordo com a famigerada proposta do governo, é de R$3,9 bi.
            Apenas nos 5 primeiros meses de 2012, a DELTA, construtora mais do que mergulhada em corrupção, recebeu do governo R$226 milhões. Acabou de ser aprovado aumento de 30% da verba de gabinete de deputados federais. Passou de míseros R$60 mil para R$78 mil, o que resultará num impacto, só referente ao reajuste, de R$115 milhões até o fim do ano. Atentemos para a quantidade de deputados (513) e de professores (milhares) no país, para ter noção do absurdo desse montante (e para quem tem um pouco mais de malícia, reflitam sobre a importância de cada função).
Enquanto o governo dizia que não poderia dar o reajuste para 2013 porque R$3,9 bi era muita coisa para o governo, na última terça-feira (17/07), a farra dos deputados aprovava, na Câmara, duas MPs que vão transferir mais de R$60 bilhões a setores privados em forma de isenção de impostos, créditos e subsídios. Houve uma imensidão de emendas nas MPs, para beneficiar construtoras, agricultores, empresas de transportes etc (será que esses beneficiados financiaram campanhas desses deputados?). R$60 bilhões!!! E R$3,9 para a educação vai quebrar o país!.
Custo dos Estádios para a Copa do Mundo? R$7 bilhões (dos quais 97% de recursos públicos). Para os defensores ciclopes e míopes dos “benefícios” da Copa (que terá 90% de estrangeiros assistindo os jogos dentro dos Estádios devido ao custo dos ingressos), só a arena de Brasília custará 1 bilhão. Local onde não há sequer um campeonato tradicional que atraia torcedores. A média de público em jogos na capital da República não chega a 2 mil torcedores. Nem, vou citar os estádios do Amazonas e Mato Grosso para não preocupa-los demais.
Para não cansá-los muito, vou finalizar apresentando os juros pagos pelo governo a especuladores internacionais e nacionais. Segundo dados recentes, 47% do PIB brasileiro é remetido a pagamentos de juros. O PIB de 2011 foi da monta de R$4,1 trilhões (façam as contas). Nesse exato momento (21/07/2012, às 9:51) o governo já cedeu a especuladores, apenas em 2012, R$125 bilhões (há todo o resto do ano ainda). Dinheiro suficiente para manter 57 milhões de crianças na escola, ou construir 2,2 milhões de casas populares ou ainda pagar 200 milhões de salários mínimos. Para manter esse paraíso aos banqueiros internacionais e nacionais, pagamos as taxas mais altas de juros do planeta, os impostos mais altos do mundo e somos o país mais caro da Terra para se viver (sem exagero). Quem dera nossa educação, saúde e segurança tivessem tamanhos números...

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Carta de um professor sobre a greve!


Vejam essa bela demonstração de honradez do professor Gilson Vieira Monteiro dirigida ao secretário das relações de trabalho do MPOG, que mandou cortar o ponto dos professores, mesmo depois de se recusar a sequer recebê-los.
 
CARTA ABERTA AO SECRETÁRIO SERGIO MENDONÇA

Senhor secretário das relações de trabalho no serviço público. Prezado senhor! O título dessa missiva bem que poderia ser “carta aberta a um covarde”. Porque, digníssimo secretário, o senhor portou-se como um covarde a serviço de um Governo covarde, antes de o galo cantar pela segunda vez esta semana. Se não, vejamos! O senhor não lembra que os servidores públicos federais em greve fizeram uma manifestação, com “Café da Manhã”, no dia 02, segunda-feira, à entrada da secretaria dirigida pelo senhor? Ao invés de receber os dirigentes, secretário, o senhor os fez esperar horas e horas, disse, ao telefone, a um deles, que não tinha autorização para recebê-los e fez com que a carta com as reivindicações dos professores fosse recebida apenas por uma das suas auxiliares. Ali, secretário, o senhor viu que a greve é pacífica e que não há “excessos nas manifestações”. Não receber as lideranças, portanto, senhor secretário, é o primeiro ato de descortesia, quiçá de covardia, por mim enumerado. Antes de o galo cantar, portanto, de a semana terminar, o senhor cometeu ato mais grave, que considero o segundo ato de covardia da semana: disparou a mensagem 552047, às secretarias de recursos humanos do serviço público, com uma ameaça velada de “corte de ponto”. Sei que o senhor deve ter (ou pelo menos deveria) uma assessoria jurídica. E isso fica muito claro quando, no comunicado, alerta “que na ausência de lei específica para o setor público, deve-se aplicar a legislação concernente à iniciativa privada - Lei 7.783, de 28 de junho de 1989.” Será, senhor secretário, que o assessor jurídico não leu o teor da dita Lei antes de ser emitida a mensagem 552047? Bem, se não o fez, vamos ler o que diz o § 2º do Art. 6º: “É vedado às empresas adotar meios para constranger o empregado ao comparecimento ao trabalho, bem como capazes de frustrar a divulgação do movimento.” Secretário, a mensagem saída da Secretaria das Relações de Trabalho, assinada pelo senhor e por Ana Lúcia Amorim de Brito, mais parece uma ameaça a nós, que estamos em greve. De acordo com a própria Lei citada pelo senhor na mensagem “ameaçar cortar o ponto” é um ato ilegal. Ato desses foi consumado ontem por esta secretaria dirigida pelo senhor. Se não, vejamos o que diz oArt. 7º da mesma Lei: “Observadas as condições previstas nesta Lei, a participação em greve suspende o contrato de trabalho, devendo as relações obrigacionais, durante o período, ser regidas pelo acordo, convenção, laudo arbitral ou decisão da Justiça do Trabalho.” Se não for um erro grave de interpretação da minha parte, senhor secretário, sem que a Justiça do Trabalho estabeleça a legalidade ou não da greve, é ato arbitrário da sua parte cortar nosso ponto. Tentativas de intimidação como essas em meio a uma greve forte e pacífica não podem ser qualificada de outra forma: uma covardia. Ademais, senhor secretário, o inciso X art 7 da Constituição Federal de 1988 diz que “constitui crime a retenção dolosa de salário”. Caso a secretaria dirigia pelo senhor corte os salários sem que a greve seja considerada ilegal pela Justiça do Trabalho, cometerá ato ilícito passível de pagamento em dobro. Assim sendo, senhor secretário, podemos combinar uma coisa? O senhor finge que apenas eu, professor Gilson Vieira Monteiro, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), estou em greve e corta meu ponto a partir do dia 18 de junho, como é a orientação dada aos setores de recursos humanos das universidades. Deixe, porém, de querer acabar a greve dos professores com intimidações, e não com propostas! Alerto, porém, que estou assumidamente em greve desde o dia 17 de maio de 2012, quando a Associação dos Docentes da Universidade Federal do Amazonas (Adua) deflagrou a greve. Será menos covarde e mais digno, tanto da sua parte quanto do governo que o senhor representa deixar de fugir da Mesa de Negociações e dizer a nós e ao povo brasileiro que o Governo não tem nenhuma proposta para a Carreira de Professor Federal. Até lá, senhor secretário, não arredaremos o pé porque nossa greve é forte. Não nos curvaremos diante de ameaças covardes como a emitida pela secretaria dirigida pelo senhor. Nossa luta por uma universidade pública, gratuita, de qualidade e socialmente referenciada não se abala com uma ameaça de corte de ponto ilegal. Porém, se o senhor tem mesmo esse desejo de punir os professores em greve, anote o meu nome e desconte o meu salário. Talvez, assim, tenha como se justificar para “seus superiores” que o impedem de sentar à Mesa de Negociações novamente. Saudações grevistas!

domingo, 1 de julho de 2012

Entre futebol, greves e educação: loas à corrupção (?)

   Este ano "comemora-se" no Brasil os 10 anos do pentacampeonato mundial de futebol. A Globo dedicou grande parte do seu programa esportivo dominical (1/7/12) a essa data. Lembrou "heróis", carregou de sentimentalismo jogadas e gols, louvou a política do pão e circo do século XXI, com seus coliseus (estádios de futebol) que sugam feito esponjas o dinheiro público em construções faraônicas, para que porcos sugadores estrangeiros se locupletem na terra tupiniquim durante um mês, no ano de 2014. E depois? Ah, isso deixa para depois...
   Outro decênio fez aniversário. A greve de 99 dias das universidades federais no fim de 2001 e início de 2002. Alguém relembrou? Alguém "comemorou"? Aliás, quantas pessoas sabem que novamente, em 2012, as universidades e Institutos federais estão com as atividades paralisadas há 40 dias? Isso a Globo não comemora, não mostra, não destaca. Afinal, o que é mais importante, o futebol ou a educação? A resposta é clara, não?
   A despeito dessas duas datas "festivas", o que se destaca é qual o caminho que vem seguindo esse país que se vangloria como a 5° economia do mundo. Nesses últimos 10 anos, o que aconteceu no Brasil? Muitos dirão que a economia cresceu, que o Brasil se tornou referência mundial, que tem influência internacional. Pois é, tudo verdade. E o que de fato mudou internamente? Quem de fato ganhou com isso? Será que as políticas assistencialistas que nasceram com FHC e se reproduzem infinitamente com Dilma são sinais de eficiência política? Será que oferecer esmolas a uma classe sofrida é o caminho para melhoria social efetiva do país? Obviamente, quem tem fome não espera. Essas políticas foram e são necessárias em caráter emergencial, mas não pode se restringir a isso. Em que essa população vilipendiada vai avançar apenas com migalhas? Vai matar a fome por alguns dias e esperar o próximo mês ansiosamente para o novo auxílio. É uma vida de espera, quiçá de esperança (do verbo esperar). E que me perdoem os divulgadores incautos de ditados obtusos, mas quem espera nunca alcança.
   A única verdade nisso tudo é que a política contaminada desde os primeiros portugueses que aqui pisaram se tornou endêmica. As classes dirigentes aprenderam com Gilberto Freyre: para a Casa Grande continuar governando, é preciso deixar a senzala comer um pouco melhor! Eis o Brasil do século XXI. 
   E a Casa Grande "nunca antes na história desse país" ganhou tanto. No governo de "esquerda" do PT nunca os bancos lucraram tanto, recordes atrás de recordes. Nunca os latifundiários do agronegócio (vinculados a multinacionais exploradoras) ficaram tão ricos. Nunca os especuladores internacionais do mercado financeiro fizeram tanto dinheiro fácil. 
  E os sem-terra? E as favelas? E a escravidão infantil? E a prostituição internacional? E a saúde deficitária? E a segurança precária? E a educação ínfima? Tudo isso parece não mudar! Na sociedade, de fato, as coisas continuam iguais. 10 anos de mais do mesmo. 10 anos sem ter o que comemorar.  10 anos de governos ineficientes, marcados pela corrupção, e antissociais.
  Mas para voltar as duas comemorações iniciais, quais as felicitações a regojizar? Nem no futebol somos referência mais. O sonho acabou e a realidade é perversa. O pais antes do futebol, agora é o país do dinheiro fácil para poucos. Enquanto isso, a educação piorou veementemente. Já não se privilegia pesquisa e extensão, e educação se restringe a ensino. Há 10 anos o professor tinha remuneração 3 vezes maior que hoje. Uma das categorias mais respeitadas socialmente, é a menos valorizada. Profissionais competentes abandonam a docência em busca de algo melhor. Qual será o impacto disso em alguns anos? 
   O Brasil se perdeu no olho do furacão da corrupção, do dinheiro fácil e da impunidade latente. Um país que esquece de seu povo e dos pilares básicos de desenvolvimento pagará a conta em breve. Findada essa era das festividades internacionais no Brasil (Copa e Olimpíadas), os investidores-gafanhotos abandonarão a plantação tupiniquim esgotada e voltarão suas garras para uma nova que aparecerá. Aqui restará o salão sujo e esgotado. Ninguém bancará a limpeza. A ressaca será forte. E a dor de cabeça durará anos a fio. E a conta, bem, essa sabemos quem vai pagar. E no fim, a velha máxima lampedusiana: "tudo muda, para que tudo continue exatamente igual".

segunda-feira, 4 de junho de 2012

quinta-feira, 24 de maio de 2012

A greve nas universidades federais


A entrevista do Ministro da Educação, Aloísio Mercadante, na terça-feira (23/5), demonstrou mais uma vez o descaso com a educação nesse país. Ao tratar da greve dos professores das universidades e de vários institutos federais (IFs), alegou que os docentes foram precipitados, uma vez que as reivindicações ainda estão em negociação. Contudo, o ministro parece ter sido acometido por um súbito mal amnésico, pois estranhamente esqueceu de mencionar que, desde o início de 2010, os professores lutam por suas carreiras e pela melhoria estrutural dos campi universitários, carentes de materiais didáticos, laboratórios, equipamentos e, principalmente, professores.
            Isso mesmo... PROFESSORES. As instituições de ENSINO sofrem com a falta de concursos e vagas para docentes (o motor da educação), o que os sobrecarrega, minorando a capacidade de pesquisa e extensão, tão caras para a execução de uma educação de fato pública e voltada para a sociedade como um todo. Mais que isso, nos últimos dias mensagens em torrente, advindas de diversos setores, inclusive dos alunos, postadas em redes sociais, solidarizam com a justa causa grevista. Num país em que o sistema educacional é deixado de lado, e seus professores (de todos os níveis), são desrespeitados com salários aviltantes diante da importância do papel que realizam, não é de se admirar o caos que vem contaminando gerações de jovens que saem sem adquirir sequer o conhecimento básico exigido quando finalizam ciclos.
            Afinal, não é à toa que a tão aclamada 6ª economia do mundo sustenta vergonhosamente a 88ª posição no ranking de educação da UNESCO. Os professores que hoje sacrificam tona a rotina de trabalho e, consequentemente, de vida familiar e social, paralisando suas atividades, cortam na própria carne a fim de conquistar algo que será coletivo. Nunca uma melhoria educacional beneficiará um pequeno grupo apenas. E, claro, muitos dirão que se trata de salário. Sim, se trata disso também. Profissionais que dedicaram suas vidas ao estudo e ao ensino, sacrificando anos em mestrados e doutorados, não podem ser desvalorizados. E nem os que não tem esses títulos.
            Por exemplo, em 2003, um pesquisador do C&T percebia R$300 a menos que um professor doutor. Hoje, recebe quase R$ 5 mil a mais. Qual a diferença de funções desses profissionais? O pesquisador C&T realiza pesquisa, o que é, de fato, muito importante. Entretanto, o professor também realiza pesquisa, mas não para por aí: cabe a ele, ademais, desenvolver extensão, lecionar e orientar. O que, nesse caso, justifica uma lacuna tão gritante entre os proventos de ambos os profissionais?
            Pesquisa recente esclareceu que entre todas as profissões que exigem ensino superior, a do professor é a que tem a menor média salarial. Na mesma linha, dentre todos os cargos federais de ensino superior (mais ou menos 40), os professores tem o 4° pior salário, ao passo que são os profissionais mais qualificados (mestres e doutores).
             Poder-se-ia, aqui, elencar uma infinidade de absurdos contra os docentes e contra a educação, no entanto, demandaria tempo e espaço demasiados. Fica, portanto, essa denúncia (desabafo?) contra a preocupante atitude do atual governo, que se mostra tão ineficaz quanto o de FHC no quesito educação. Um governo que se diz dos trabalhadores, que cresceu em meios a greves históricas, hoje anuncia aos quatro ventos que não negocia com grevista. Seria cômico se não fosse trágico.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

A ameaça fascista numa sociedade doente


Nos últimos tempos a onda fascista ronda o mundo, manifestando a obtusidade histórica da população mundial. Atos de violência estatal, autoritarismo, cortes de direitos sociais, perseguições a minorias, xenofobismo etc, veem à tona seguidos de aplausos fervorosos de grande parte da população. Infelizmente, trabalhadores e jovens, politicamente impotentes, entregam ao Estado a função de “pacificar” a sociedade, o que é feito com inversão de valores: a violência passa a ser o modus operandi contra famintos, viciados, desabrigados, sem-terra. A justiça social passou a ser sinônimo de justiça legal. Isto é, pune-se, cegamente, qualquer sintoma de reação à barbaridade política e social imposta pelas autoridades mundiais.
            Parece que as pessoas esqueceram as consequências de regimes fascistas no mundo e seus congêneres militares (ditaduras), nos quais há perda de liberdade, uso excessivo de violência, assassinatos, perseguições... tudo ancorado em propaganda ideológica fortíssima, levada a cabo pela mídia subserviente.
            No Brasil, as coisas não são melhores: insanamente, muitos dão loas às perseguições feitas aos “boyzinho fumadores sustentados por nossos impostos” na USP, às ações de desapropriações que deixam milhares de pessoas nas ruas, a declarações preconceituosas de um tal Bolsonaro contra homossexuais, ao espancamento de viciados em craque em São Paulo, às “pacificações” nas favelas do Rio, às acusações indevidas a movimentos grevistas. Isso é sintoma de uma sociedade doente. Uma sociedade cega, individualista, mesquinha e rancorosa. O ódio se volta contra os oprimidos, e não contra os opressores.
            Figurões de colarinho branco mandam e desmandam, praticam crimes, passam por cima da lei, e nada acontece. Voltam à baila um ou dois mandatos depois, contando com a falta de memória e consciência política da população. Os abusos são tão graves e naturais, que nada acontece quando um governador de Estado retira direitos de professores, ou que seu secretário da Educação pratica uma política fascista de perseguições a grevistas, de maneira velada. Dá-se o tapa e esconde-se a mão. Ou que tais sumidades tenham relações com um senador que adorava vociferar sua honestidade; honestidade falsa, suja, que se submetia às ordenanças de um bicheiro qualquer. Honestidade que tem um valor (bem alto por sinal). Ou, ainda, que haja clara censura contra o direito de informação de todo um Estado, quando se vê desaparecer das bancas de jornais uma revista que faz denúncias graves contra esses figurões. Nada Acontece!
            Mas o pior é ver que a preocupação das pessoas se volta para seus umbigos. Ninguém se indigna contra essa corja. Estão todos preocupados em louvar suas TVs de 42 polegadas pagas em 62 prestações; em postar banalidades em redes sociais; em sonhar com o carro novo; em beber sua cerveja; em pagar seu aluguel aos especuladores imobiliários. E os que podem fazer isso, vangloriam-se como se fossem super-heróis, acusando de vagabundos, incapazes ou malandros os excluídos, como se houvesse oportunidade para todos.
              A juventude é foco dessas ações, manipulados por discursos autoritários, de extrema-direita, religiosos incautos, mídia vendida (que adora criminalizar toda ação social), grupos políticos e sociais de cunho fascista (skinheads e neointegralistas) e um conservadorismo incrustado nas gerações passadas. o perigo é latente neste caso, já que contaminou a nova geração. 
            O mundo está doente e, infelizmente, a obtusidade convida o fascismo a entrar. 

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Vamos mentir e vencer na vida?


Os políticos já estão eleitos, mas as mentiras vão continuar por aí. Eles vivem da mentira, vivem para a mentira.  Mas não sejamos inocentes. A mentira é eterna, em todos os rincões, em todas as mentes e em todos os locais. Está na rua, no trabalho, nas igrejas, no doce resguardo dos nossos lares. A mentira é só a verdade que não aconteceu.
            Contudo, os valores moralistas nos impostos de fora, ensinam-nos que mentir é feio, é pecado, é antiético. Mas por que sempre quem está nos cargos de mando, valem-se o tempo todo da mentira? Mentir é bom! Afinal, esses que aí estão atravancando nosso caminho, eles MENTIRÃO; nós, mentirinha. Sejamos mentirosos também, e vamos chafurdar na lama da ostentação e do poder.
            Calma, não se assustem. Eu minto, tu mente, ele mente. Todos mentimos! Contar lorota, balela, enganos, imposturas etc, faz parte do nosso dia-a-dia. Uns mentem mais, outros mais ainda. Se a pessoa fala que não mente, começou naquele exato minuto. Saibamos usá-la então. Vamos mentir com garbo e elegância. Não vamos desperdiçar a mentira. Vamos dizer que somos honestos sempre, que somos DEMOCRATAS, que queremos ouvir a opinião alheia, que nos preocupamos com as injustiças. Enfim, vamos usar a retórica e manipular, enganar e nos dar bem. Se muitos fazem e estão bem, nada mais justo e democrático que possamos também nos valer do mesmo subterfúgio. Vamos aparecer sempre de terno e gravata, usar um tom de voz calmo e constante, apertar a mão de todos, participar de vários eventos, fazer política e, no fim, mentir. Vamos usar a mesma moeda de troca, vamos fazê-los sentir o próprio remédio, vamos ser lobos em pele de cordeiro, vamos ser autoritários usando uma máscara iluminista e um cartaz com letras garrafais: LIBERDADE, IGUALDADE E FRATERNIDADE.
            Nem Deus escapou a essa prática cotidiana: se Caim mentiu quando Ele perguntou onde estava Abel, Deus mentiu primeiro, quando fingiu que não sabia. Afinal Ele não é onisciente e onipresente? Enfim, pessoal, não se intimidem, aprimorem a prática, espelhem-se nos mandatários máximos de nossa sociedade e instituições (até mesmo as de ensino) por aí. Vamos à luta; vale a pena! Acreditem em mim, pois, sinceramente, eu não minto.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Vamos levar um papo sério?


Hey você aí. Não olhe para o lado não. É você mesmo! Não está na hora de acordar? De enxergar o que está acontecendo a sua volta? Pelamordedeus, sacode! Você tem filho? É um jovem ainda, tem pais ou avós para se aposentar? Quem você acha que vai cuidar do futuro (e do presente)? Os políticos que deveriam nos representar? Eles só representam a si mesmos. Está na hora de falar com seus amigos, família, colegas do futebol, amigas de chá etc. Todos devemos nos politizar, sair às ruas, causar impacto, cobrar. Do contrário, estamos perdidos.
            Já não há limites para a hipocrisia, bandidagem, corrupção, sacanagem. Está tudo escancarado. O que pensar de um país onde Ricardo Teixeira, Maluf, Alvaro Dias, Borhausen, ACMs e muitos outros da mesma fauna fazem e dizem o que querem e nada acontece? É a farra do boi com o dinheiro e os bens públicos. E isso num momento em que uma grave crise internacional se avizinha. A bomba explode no mundo todo, principalmente nos países ricos, e você aí, nessa vida boa lendo o jornal, acha realmente que vai ser uma “marolinha” no Brasil? NÃO! Vai nos atingir forte como um tsunami. E o governo sabe disso. O que você acha que foi aquele corte de gastos públicos (saúde, educação, segurança, transportes, previdência, direitos trabalhistas) na ordem de 50 bilhões? É mais uma vez a cartilha neoliberal (a mesma que leva bilhões de pessoas à situação de miseráveis no mundo e que colocou o planeta numa crise) sendo aplicada à risca. Ou seja: se há crise, que a sociedade pague. Do setor público se corta verba, mas do pagamento de juros estratosféricos a bancos nem um vintém é tirado.
            Enquanto isso, enxurradas de dinheiro público em estádios de futebol sem controle algum, sem licitações, sem nada. Mais que isso, o comitê responsável pela Olimpíada no Brasil já mostrou que vai ser uma vergonha, e muita gente vai levar grana fácil aí. Na saúde, filas, mortes, descasos. Segurança: o que é isso? Educação: pra quê? Você aí pouco sabe que o governo quer regulamentar uma carreira docente onde os mestrados e doutorados não serão considerados para progressão na carreira. Ou seja, seu filho não precisa ter aula com professores qualificados, atualizados, valorizados. Não... o governo estimula é Ensino (?) à Distância, o que é desprezível conforme inúmeros dados recentes. E nas mesas de negociações os representantes do governo dizem: “é preciso fazer mais com menos”. É até insulto, pois há poucos meses atrás os deputados e senadores aprovaram aumento para eles mesmos de 11 mil reais. Para eles vale o inverso: “fazer menos com mais”. Recebem ainda 13º, 14º e 15º salários. Três meses de recesso por ano. E você aí? Recebe quanto? Quantos dias de férias por ano? Fora o salário você recebe auxílio moradia, paletó, transporte, alimentação, e tem taxa de bancada (média de 100 mil reais em 4 meses) para torrar a torto e à direito? Não né? Os políticos sim.
Ah, também querem elevar a idade para aposentadoria! Eles se aposentam em 8 anos de “trabalho”. Até quando você vai ficar aí nessa vidinha mais ou menos? Levante e lute por você, pois ninguém fará isso. Se nada fizer, continuará vivendo no inferno coletivo enquanto essa minoria detentora do poder se locupleta no paraíso terrestre.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Belo Monte (PA): onde os fracos não tem vez


O governo anunciou a liberação da construção da Usina Belo Monte no Pará. Mais uma vez a população brasileira se cala frente aos descalabros da política nacional. Esta usina vai custar bilhões de reais, grande parte financiado pelo erário público, mas entregue nas mãos do setor privado, que vai ganhar fortunas. Sem mencionar o caos socioambiental evidente, denunciado por centenas de especialistas e já em turno na região: violência, assassinatos, revoltas, desemprego, destruição da fauna e da flora.
            As populações indígenas e ribeirinhas estão sendo ignoradas no processo, como se não existissem. Mulheres, crianças, jovens, idosos, todos estão diante da destruição anunciada de sua história, de suas raízes, de seu lar e de sua possibilidade de sobrevivência. E ninguém levanta sequer um dedo contra isso. Enquanto se discute futebol e jovens estúpidos se matam nas ruas das cidades por times que sequer sabem de sua existência.
            Se de fato fosse resolver o problema energético do país e tivesse uma política social real, até poderia se considerar a instalação de Belo Monte, porém, está mais do que evidente de que se trata de mais um elefante branco. Com gastos previstos em torno de R$ 30 bilhões, dos quais 80% serão financiados por décadas pelo BNDES, com juros irrisórios, para a concessionária vencedora. Ou seja, os impostos pagos pela população serão entregues nas mãos de uma empresa privada, quase de graça, para que ela lucre mesopotâmicamente. Durante quase metade do ano, Belo Monte vai produzir como qualquer pequena usina, pois o rio Xingu se encontra em baixa. Portanto o mito de “salvação” se trata de tremenda balela (mentira mesmo!).
            O que muitos denunciam é que esse projeto evidencia mais uma política antissocial do governo, que se rende ao setor privado, já que este financia campanhas com vultosas contribuições. No fundo, os políticos não representam a sociedade, mas seus financiadores. Pouco se importam com as pessoas mergulhadas no desespero por terem suas moradias, vidas e trabalho escorrendo entre os dedos, sem nada poder fazer.
            O assunto é muito complexo para um artigo de jornal, por isso finalizo com algo palpável: o relato da dona Maria José (Caros Amigos, n°173), que perdeu tudo durante a construção da usina Estreito em Tocantins (projeto bem menor que Belo Monte). “Eles chegaram aqui de uma hora pra outra e derrubaram a casa, jogaram tudo que tinha bem aí. Não é fácil, morei a vida inteira ali, tinha tudo plantado, criei os filhos. Eu me escondi no mato pra não ver eles derrubando a casa, porque a gente fica nervosa né... Eu e meus meninos, todo mundo sofrendo. Pobre tem uns caquinho velho, mas pra gente é importante. Mas aí vieram com o trator, derrubaram, fizeram um buracão e enterraram. Quando eu cheguei, botei a mão no cabelo e fiquei chorando. E um monte de gente olhando. Aí nós dormimos mais ou menos duas semanas embaixo de um pé de manga e depois fizemos o barraco de palha, ficamos um ano embaixo da lona. Depois disso adoeci e nunca mais fiquei boa”.
            Dona Maria José não recebeu nenhuma indenização e segue sua vida incógnita, invisível, como milhares de outras pessoas esquecidas pelo governo, mas com mais dificuldades do que antes. Está aí um mínimo prelúdio do que ocasionará Belo Monte. Desde já, o sol se põe de maneira triste no rio Xingú, contudo, não mais triste que esses seres humanos já sofridos, agora carcomidos pela certeza da desgraça.

sábado, 28 de janeiro de 2012

Vida de professor

"Feliz" 2012


Nesse ano novo desejo a todos conquistas reais e não sonhos impossíveis
Desejo que a miséria diminua, ainda que seja muito pouco
Que as pessoas se livrem da grande mídia e leiam poucas coisas, mas boas
Que o individualismo se torne menos opressivo e a fraternidade lance sua semente
Desejo que a vida humana valha mais que o bem privado
Que a dor do outro nos incomode insistentemente
Que a fome de uma criança seja vista com preocupação, quiçá de todas elas
Desejo que o preconceito, a ignorância e a arrogância percam fôlego
Que dinheiro, carros e marcas caras não se transfigurem em felicidade
Que a desigualdade gritante seja vista como descalabro
Desejo que a injustiça não se torne naturalmente moral
Que a censura não volte a reinar e que o embate de ideias seja profícuo
Que programas televisivos de domingo sejam ceifados de nossas vidas
Desejo que todo ser humano possa se alimentar diariamente
Que todos possam se aquecer embaixo de um teto, sem abraçar a morte fria
Que nenhuma ave carniceira se alimente de crianças vivas e inertes pela desnutrição
Desejo que a ânsia por lucro não permita que africanos sejam cobaias de multinacionais
Que façamos algo para mudar esse mundo insano, habitado por ilhas humanas
Que as pessoas não sejam obcecadas por si
Desejo ação, vontade, discussões, embates, para ao menos um mínimo de mudança
Desejo, mais que tudo, que votos de ano novo vazios, subjetivos e inócuos evaporem
Neste novo ano, desejo que não haja felicidade, sorrisos, alegria e paz plenos
Enquanto todos não puderem sentir um pouco disso tudo
Afinal, do que vale tanta abstração nos regozijos putrefatos da comilança descontrolada
Se ainda existir no mundo, pelo menos uma criança que não pode sorrir.