quarta-feira, 17 de outubro de 2012

A pretensa imprensa imparcial brasileira


 Há duas semanas atrás a revista VEJA publicou um artigo sobre a trajetória do historiador inglês Eric Hobsbawm que, junto com Thompsom, marcou uma renovação na historiografia marxista. A revista, à despeito da qualidade de produção do autor, despejou um manancial de críticas totalmente ideológicas contra ele, chegando a afirmar que, de certa forma, teria apoiado genocídios praticados por ditadores que se diziam comunistas. 
   Esse tipo de postura levanta, mais uma vez, a questão da imparcialidade da imprensa brasileira, que insiste em vociferar que trabalha nos limites da objetividade, sem adotar posturas políticas e ideológicas, mas fica patente a invericidade de tal argumentação. Trata-se de uma prática que mais desorienta do que informa o leitor, já que as diversas mídias alocam suas próprias opiniões de maneira velada, não esclarecendo seu público, muitas vezes manipulado pela retórica esmerada de jornalistas e editores. Isso denota uma atividade no mínimo desonesta, pois os editores se valem, repetidamente, da concessão pública do direito de transmissão de programas na TV aberta para conduzir o público na direção de seus interesses particulares. Isso se repete nos órgãos privados de imprensa que, embora utilizem um meio de comunicação privado independente de concessão, não se isentam de responsabilidade perante o leitor, o que demandaria postura mais justa ao conduzir informações.
   A imprensa norte-americana neste quesito merece mais respeito, afinal, assume ideologicamente suas opiniões atraindo a atenção de leitores que compartilham, conscientemente, da visão de tais mídias. Ou seja, quando um americano procura determinado periódico o faz ciente da vertente opinativa que encontrará, sem falsas e desonestas informações teoricamente imparciais. Ademais, a abertura de posicionamentos por parte da mídia faria com que o público tivesse mais capacidade de discernimento, pois poderia buscar mais facilmente todos os tipos de visões e interpretações da realidade, o que contribuiria para que formasse (quase) independentemente sua opinião.
   Esta linha de trabalho já é adotada por alguns periódicos brasileiros, mas, estranhamente, por aqui, isso se torna alvo de críticas ácidas. Nas eleições presidenciais de 2002 e 2006, a revista CARTA CAPITAL, sob a égide do editor Mino Carta, escancarou seu apoio à candidatura de Lula, o que culminou num bombardeamento sobre a publicação, como se estivesse cometendo uma heresia ao ser honesta com seu público. Isto é, no Brasil se defende a falta de clareza e a manipulação imoral do leitor em nome de uma pretensa imparcialidade e objetividade jornalística, algo impossível na essência, já que toda ação é uma tomada de postura, inclusive a falta de ação é a clara manifestação de uma opção (o não agir). 
   Deve-se levar tal discussão a setores diversos da sociedade, para que ocorra melhoramento continuado da prática de imprensa brasileira. No caso de CARTA CAPITAL, por exemplo, fica mais fácil o diálogo e as cobranças de seus leitores diante da satisfação ou insatisfação com o governo petista, já que o periódico assumiu uma linha de atuação e orientou seu público a também seguir. No caso da grande maioria da imprensa brasileira, tal debate se torna quase ausente, isto porque o público não pode cobrar os periódicos e mídias diante da realidade do país, pois esses órgãos atuaram durante campanhas empunhando a bandeira farsesca da imparcialidade... embora tenham veladamente defendido determinadas visões de mundo.
   Cabe, diante de tais argumentações, repensar a atividade jornalística brasileira, a fim de pressionar as mídias, revistas, rádios e jornais a adotarem novas práticas que, no limite, serão mais saudáveis para o desenvolvimento social da nação.