O Brasil vive um momento crítico
em sua ainda curta democracia. Trinta anos após o fim da Ditadura Militar – que
perseguiu, censurou, torturou, destruiu a economia do país e assassinou
opositores -, estamos novamente às portas de um golpe. E assim como naquele
contexto, mais uma vez temos setores da sociedade fomentando esse clima de
golpismo. Uns por ignorância e inocência, outros por má fé. E a mesma mídia que
enriqueceu naquele período para defender a Ditadura é a que cimenta as bases de
um novo golpe.
Mas
os motivos mudaram! Em 1964 o golpe foi dado para evitar que se realizasse políticas
voltadas ao povo (saúde, reformas, educação, trabalho etc), assustados pelos movimentos
de pessoas que BATIAM PANELAS entre os anos 1950 e 1960, mas não os mesmo de
hoje. Naqueles tempos, as panelas ecoavam vazias, como sinal de carestia e fome, como sinal de
desemprego e falta de assistência do governo. Mais de 500 mil pessoas bateram
panelas entre 1952-1953, famintas! Bater panelas era um ato político sério, que
denotava uma situação grave enfrentada pela população. Algo bem diferente de
agora.
Naquela época
os manifestantes gritavam, sabiamente, “Trabalhador não vota em tubarão.
Trabalhador vota em trabalhador”. Obviamente eram chamados de baderneiros,
arruaceiros e vagabundos. Eram violentamente reprimidos pelas polícias. Hoje
tentam, convencer, de maneira escroque, o trabalhador a votar em tubarão!
Hoje as
panelas batem em outros locais. Não ecoam na periferia e nem nos bairros
comuns. Elas batem em zonas urbanas valorizadas, em condomínios de luxo e à beira-mar,
em sacadas gourmet. Não fazem estardalhaço por alimentos, educação e trabalho.
Fazem por egoísmo, estupidez e individualidade. Não aceitam a ascensão da
classe trabalhadora. Não toleram esperar em filas de aeroportos e restaurantes
(pois muitos podem usufruir disto hoje). Não suportam ver seus filhos, que
estudam em escolas de mensalidades inacessíveis para a maioria, sendo superados
em exames nacionais por estudantes que frequentam instituições de ensino
públicas e de qualidade. Instituições estas, frutos do atual governo (os
Institutos Federais - vide último resultado do ENEM). Se negam a dividir profissões que antes eram exclusivas
de brancos e ricos (médicos, dentistas, juízes, promotores, engenheiros), e
que hoje é acessível a todos (ainda que com dificuldades).
Nos panelaços
atuais, o manifestante não é acuado e nem espancado pela PM. Não recebe bombas
de gás e nem tiros de borracha nas costas. Pelo contrário, tiram selfies junto aos policiais, sendo
educadamente tratados, afinal, não lutam contra a injustiça e o poder de um
setor privilegiado. São cuidadosamente escoltados, para que nada impeça o
direito dessas pessoas de se manifestarem (pena que só é assim com algumas
poucas manifestações). São carinhosamente cuidados para que reivindiquem o seu direito de privar os outros de direitos.
Neste clima de
golpismo a população precisa tomar um lado. Na política é preciso ter lado,
sempre. Os tubarões sempre tiveram o lado deles. Sempre lutaram para se perpetuarem como os únicos privilegiados, em uma fraternidade seletiva sem igual.
Fora do cume
da pirâmide, você aí vai engrossar a fileira? A dos tubarões (sem ter a mínima possibilidade
de chafurdar, posteriormente, na lama da vitória – digo lama mesmo, pois são
todos porcos!), ou vai defender a democracia, os inegáveis avanços da última
década, a melhoria da situação geral da população brasileira, a legalidade? Não se trata de
negar as falhas do governo atual. Trata-se de ter lado. De saber a hora de agir
e defender o que importa. Sempre, claro, de forma crítica.
Se os tubarões
querem o poder, que o consigam por meio eleitoral. Que vençam nas urnas. Que proponham
um programa de governo justo. Não por meio de GOLPE, como vem sendo armado pelo
PSDB e PMDB (Aécio, Cunha, Bolsonaro e seus asseclas).
Nós, como
peixinhos, que saibamos a hora de nos levantar e lutar, antes que o mar não
esteja mais para peixe. Que todos nós saibamos respeitar o ecoar de panelas
vaziam ressoando. As que cantaram contra a fome, e não as que aparecerão no 16
de agosto (dia do apoio ao Golpe contra a democracia e a população brasileira).
Vamos respeitar as panelas?