quinta-feira, 13 de agosto de 2015

É PRECISO RESPEITAR AS PANELAS QUE ECOARAM

                O Brasil vive um momento crítico em sua ainda curta democracia. Trinta anos após o fim da Ditadura Militar – que perseguiu, censurou, torturou, destruiu a economia do país e assassinou opositores -, estamos novamente às portas de um golpe. E assim como naquele contexto, mais uma vez temos setores da sociedade fomentando esse clima de golpismo. Uns por ignorância e inocência, outros por má fé. E a mesma mídia que enriqueceu naquele período para defender a Ditadura é a que cimenta as bases de um novo golpe.
                Mas os motivos mudaram! Em 1964 o golpe foi dado para evitar que se realizasse políticas voltadas ao povo (saúde, reformas, educação, trabalho etc), assustados pelos movimentos de pessoas que BATIAM PANELAS entre os anos 1950 e 1960, mas não os mesmo de hoje. Naqueles tempos, as panelas ecoavam vazias, como sinal de carestia e fome, como sinal de desemprego e falta de assistência do governo. Mais de 500 mil pessoas bateram panelas entre 1952-1953, famintas! Bater panelas era um ato político sério, que denotava uma situação grave enfrentada pela população. Algo bem diferente de agora.
Naquela época os manifestantes gritavam, sabiamente, “Trabalhador não vota em tubarão. Trabalhador vota em trabalhador”. Obviamente eram chamados de baderneiros, arruaceiros e vagabundos. Eram violentamente reprimidos pelas polícias. Hoje tentam, convencer, de maneira escroque, o trabalhador a votar em tubarão!
Hoje as panelas batem em outros locais. Não ecoam na periferia e nem nos bairros comuns. Elas batem em zonas urbanas valorizadas, em condomínios de luxo e à beira-mar, em sacadas gourmet. Não fazem estardalhaço por alimentos, educação e trabalho. Fazem por egoísmo, estupidez e individualidade. Não aceitam a ascensão da classe trabalhadora. Não toleram esperar em filas de aeroportos e restaurantes (pois muitos podem usufruir disto hoje). Não suportam ver seus filhos, que estudam em escolas de mensalidades inacessíveis para a maioria, sendo superados em exames nacionais por estudantes que frequentam instituições de ensino públicas e de qualidade. Instituições estas, frutos do atual governo (os Institutos Federais - vide último resultado do ENEM). Se negam a dividir profissões que antes eram exclusivas de brancos e ricos (médicos, dentistas, juízes, promotores, engenheiros), e que hoje é acessível a todos (ainda que com dificuldades).
Nos panelaços atuais, o manifestante não é acuado e nem espancado pela PM. Não recebe bombas de gás e nem tiros de borracha nas costas. Pelo contrário, tiram selfies junto aos policiais, sendo educadamente tratados, afinal, não lutam contra a injustiça e o poder de um setor privilegiado. São cuidadosamente escoltados, para que nada impeça o direito dessas pessoas de se manifestarem (pena que só é assim com algumas poucas manifestações). São carinhosamente cuidados para que reivindiquem o seu direito de privar os outros de direitos.
Neste clima de golpismo a população precisa tomar um lado. Na política é preciso ter lado, sempre. Os tubarões sempre tiveram o lado deles. Sempre lutaram para se perpetuarem como os únicos privilegiados, em uma fraternidade seletiva sem igual.
Fora do cume da pirâmide, você aí vai engrossar a fileira? A dos tubarões (sem ter a mínima possibilidade de chafurdar, posteriormente, na lama da vitória – digo lama mesmo, pois são todos porcos!), ou vai defender a democracia, os inegáveis avanços da última década, a melhoria da situação geral da população brasileira, a legalidade? Não se trata de negar as falhas do governo atual. Trata-se de ter lado. De saber a hora de agir e defender o que importa. Sempre, claro, de forma crítica.
Se os tubarões querem o poder, que o consigam por meio eleitoral. Que vençam nas urnas. Que proponham um programa de governo justo. Não por meio de GOLPE, como vem sendo armado pelo PSDB e PMDB (Aécio, Cunha, Bolsonaro e seus asseclas).
Nós, como peixinhos, que saibamos a hora de nos levantar e lutar, antes que o mar não esteja mais para peixe. Que todos nós saibamos respeitar o ecoar de panelas vaziam ressoando. As que cantaram contra a fome, e não as que aparecerão no 16 de agosto (dia do apoio ao Golpe contra a democracia e a população brasileira). Vamos respeitar as panelas?

                

domingo, 26 de julho de 2015

Bolivariano? Cruzes!

BOLIVARIANO! Que? Hein? Credo!!! Este termo tornou-se herético nos últimos tempos, graças à inescrupulosa grande imprensa brasileira e a pseudofilósofos sem estofo intelectual, mas com retórica suficiente para angariar seguidores apaixonados (como toda paixão, irracional).
Poucos sequer sabem o que significa o termo, menos ainda procuraram entender o sentido histórico dele. Mas reproduzem um ódio insano, inexplicável, contra qualquer um que ouse falar em bolivarianismo. Estes, certamente, estão embriagados pelas belas soluções ofertadas pela Europa ou pelos EUA. Estes veem as soluções lá fora, e não aqui dentro. Eles sentem vergonha de sua origem latino-americana, ansiando por um pouco de europeização em terras de índios. Isso já ocorreu alguns séculos atrás! Os habitantes daqui foram torturados, escravizados e exterminados.
Talvez Sardenbergs, Leitões, Constantinos e Olavos sejam mais interessantes, para estes, do que Martí, Bolívar e Guevara. Talvez o “mérito” valha mais que a “solidariedade”. O acúmulo mais que o compartir. O “eu” mais que o “nós”. Mas certamente eles não sabem, ou sabem e ignoram, que a Europa está falida. Que nos magnânimos EUA a cada ano cresce o número de miseráveis. E PIOR, sequer levam em conta que, enquanto isso, as nações da América Latina que nos últimos 20 anos foram geridas por governos progressistas, diminuíram vertiginosamente a miséria e as desigualdades. Que as nações mais ricas do mundo, há algumas décadas, ganhavam 70 vezes mais do que as mais pobres e hoje isso diminuiu para apenas 10 vezes mais! E a América Latina tem papel preponderante nessas mudanças.
Estes que idolatram esses modelos externos, falidos, esses que viram as costas para os seus para se deslumbrarem com os ways of life que nunca poderão ter, obviamente não aprenderam nada com os índios que compartilhavam tudo uns com os outros, que não acumulavam para não se diferenciarem dos iguais. Não, esses preferem o individualismo e o acúmulo, nem que sejam às custas dos outros, da miséria e da dor alheia.
“Ah, mas os EUA é a terra das oportunidades”! É? Para quem? E a que custo? Os EUA se construíram e se mantêm às custas da extorsão do mundo. Se este é o modelo a ser seguido, desculpem-me, mas sou bolivariano. Se a desigualdade naturalizada na infame e distorcida meritocracia é a forma adequada de convívio, desculpem, mas sou bolivariano.

Sou bolivariano porque isso significa pensar em uma grande nação latino-americana (o que não significa acabar com os países), baseada no auxílio mútuo, no desenvolvimento coletivo e não individual, na luta contra a pobreza e a fome. Sou bolivariano porque Bolívar nos ensinou a amar uns aos outros, a enxergar nossos valores e raízes, e a ver outras possibilidades exógenas às ofertadas pelo império! Sou bolivariano porque sou latino-americano e não me comporto como um porco ganancioso que, em público fala em justiça, em pobres, em Cristo etc, mas na prática só pensa em si. Como dizia Henry Fonda, é muito fácil amar a humanidade, difícil é amar o próximo. Ame o próximo e seja bolivariano você também!