A entrevista do
Ministro da Educação, Aloísio Mercadante, na terça-feira (23/5), demonstrou
mais uma vez o descaso com a educação nesse país. Ao tratar da greve dos
professores das universidades e de vários institutos federais (IFs), alegou que
os docentes foram precipitados, uma vez que as reivindicações ainda estão em
negociação. Contudo, o ministro parece ter sido acometido por um
súbito mal amnésico, pois estranhamente esqueceu de mencionar que, desde o
início de 2010, os professores lutam por suas carreiras e pela melhoria
estrutural dos campi universitários, carentes de materiais didáticos,
laboratórios, equipamentos e, principalmente, professores.
Isso
mesmo... PROFESSORES. As instituições de ENSINO sofrem com a falta de concursos
e vagas para docentes (o motor da educação), o que os sobrecarrega, minorando a
capacidade de pesquisa e extensão, tão caras para a execução de uma educação de
fato pública e voltada para a sociedade como um todo. Mais que isso, nos
últimos dias mensagens em torrente, advindas de diversos setores, inclusive dos
alunos, postadas em redes sociais, solidarizam com a justa causa grevista. Num
país em que o sistema educacional é deixado de lado, e seus professores (de
todos os níveis), são desrespeitados com salários aviltantes diante da
importância do papel que realizam, não é de se admirar o caos que vem
contaminando gerações de jovens que saem sem adquirir sequer o conhecimento
básico exigido quando finalizam ciclos.
Afinal,
não é à toa que a tão aclamada 6ª economia do mundo sustenta vergonhosamente a
88ª posição no ranking de educação da UNESCO. Os professores que hoje
sacrificam tona a rotina de trabalho e, consequentemente, de vida familiar e
social, paralisando suas atividades, cortam na própria carne a fim de
conquistar algo que será coletivo. Nunca uma melhoria educacional beneficiará
um pequeno grupo apenas. E, claro, muitos dirão que se trata de salário. Sim,
se trata disso também. Profissionais que dedicaram suas vidas ao estudo e ao
ensino, sacrificando anos em mestrados e doutorados, não podem ser
desvalorizados. E nem os que não tem esses títulos.
Por
exemplo, em 2003, um pesquisador do C&T percebia R$300 a menos que um
professor doutor. Hoje, recebe quase R$ 5 mil a mais. Qual a diferença de
funções desses profissionais? O pesquisador C&T realiza pesquisa, o que é,
de fato, muito importante. Entretanto, o professor também realiza pesquisa, mas
não para por aí: cabe a ele, ademais, desenvolver extensão, lecionar e
orientar. O que, nesse caso, justifica uma lacuna tão gritante entre os
proventos de ambos os profissionais?
Pesquisa
recente esclareceu que entre todas as profissões que exigem ensino superior, a
do professor é a que tem a menor média salarial. Na mesma linha, dentre todos
os cargos federais de ensino superior (mais ou menos 40), os professores tem o
4° pior salário, ao passo que são os profissionais mais qualificados (mestres e
doutores).
Poder-se-ia, aqui, elencar uma infinidade de
absurdos contra os docentes e contra a educação, no entanto, demandaria tempo e
espaço demasiados. Fica, portanto, essa denúncia (desabafo?) contra a
preocupante atitude do atual governo, que se mostra tão ineficaz quanto o de
FHC no quesito educação. Um governo que se diz dos trabalhadores, que cresceu
em meios a greves históricas, hoje anuncia aos quatro ventos que não negocia
com grevista. Seria cômico se não fosse trágico.