Hoje completo
31 anos. Pois é, TRINTA E UM anos. O aniversário é uma coisa muito estranha. Desde
que somos crianças aprendemos que temos que comemorar e festejar o tempo
passando. Não sei, quanto mais aniversários passam, mais se aproxima o fim da
vida (para não dizer morte. Não gosto dessa palavra), e por isso sempre achei
estranho cantar o “parabéns”.
O tempo
passando é a inexorável força da natureza, que nos conduz à revelia de nossa
vontade. Você pode parar todos os relógios, ignorar a noite e o dia, fingir que
não existem os meses e anos, mas não adianta, ele está lá: o tempo. E não parado!
Ele é metódico, caminha com passos nem largos e nem curtos, sempre na mesma
velocidade, pois ele não precisa correr. Sempre atingirá seu objetivo.
Como ainda
faço parte dessa sociedade ufanista, rendo-me a certos caprichos padronizados,
por isso farei um churrasco (com cerveja, para encher de frescor dourado meu
interior) com familiares e alguns amigos, para “comemorar” 31 anos passados de
minha vida.
Quando eu era
criança, a festa era de salgadinhos, docinhos e refrigerante, e eu até gostava,
pois ganhava presentes à beça (pois é, já fui capitalista – será que não sou
mais?). Eu não gastava nada e pensava que tudo acontecia de graça. Hoje “comemoro”
31 anos, não ganharei presentes como antes, não terá docinhos e a festa é por
minha conta. Estranho, não? Comemorar algo que ainda não tenho certeza que é
bom e ainda tirar dinheiro do bolso para isso. Não que eu seja doente pelo
dinheiro, mas para quem pouco tem...
Desculpe me
repetir, mas estranho. Hoje o aniversário terá muitas das mesmas pessoas da infância
e outros novos. Mas não dá para comemorar. A cada ano vejo meu pai mais velho
(velho mesmo, e ele sabe disso, não me venham com essa coisa de “a melhor idade”),
mais cansado, mais debilitado, com mais dores, com mais pelos e cabelos
brancos, e com menos saúde. Minha mãe a mesma coisa. Mas eles ainda estão lá,
dispostos a comemorar o aniversário dos filhos (no plural porque tenho uma irmã
gêmea, a Priscila). Quiçá por isso valha a pena estar presente no meu aniversário.
Para ver meus pais, embora não viçosos como anos atrás, mas com o mesmo amor.
Olho para trás
e vejo já uma história de vida, uma lógica (?), um caminho traçado. Ela poderia
ser diferente? Sim! Poderia ser melhor? Sim! Mas também poderia ser pior. Sou resultado
das escolhas que fiz, muitas delas acertadas, outras tantas equivocadas, e
algumas absurdas. Mas as fiz, não tem como voltar atrás. Tem como mudar daqui
para frente, mas o que foi escrito no tempo não se apaga. É como se tivesse
sido gravado a ferro quente em nossa pele.
Muitas pessoas
passaram pela minha vida. Umas ficaram na memória, outras se perderam em algum
lugar no passado. Poucas marcaram de verdade. Dessas últimas sinto muita falta.
Outros sujeitos dessa história se foram. Abandonaram a vida.
As que
chegaram a certo momento da minha jornada e ainda fazem parte dela também têm
papel importante, afinal, amizade, amor, paixão, carinho, cumplicidade,
proximidade são elementos de apreciação. Obvio que esses sentimentos são
transitórios, inconstantes, passam por tempestades violentas, muitos racham,
outros quebram sem conserto. Mas estão lá, conduzidos por pessoas que também
possuem suas próprias histórias e caminham, como a mim, para o final.
Pois é, 31
anos! Daqui a pouco estarei presente na casa dos meus pais para não comemorar
meu aniversário. Decidi! Não tem porque fazer isso. Não louvarei meu cabelo
caindo, as rugas chegando, o vigor da juventude me abandonando. Ah, ela, a
juventude! Ainda que eu a agarre com toda força, escapa-me entre os dedos. É como
segurar água. Não consigo retê-la. Tento acumular um pouquinho na palma da mão,
mas sei que minhas mãos vão cansar e derrubá-la, ou senão ela vai evaporar. Ela
está partindo, pouco a pouco, dia a dia, minuto a minuto, aniversário a
aniversário...
Agora tenho
que tomar banho preparar a carne e me certificar se a cerveja está gelada. Afinal,
se o tempo não para, como dizia Cazuza, vou continuar minha caminhada nessa
jornada que já sei o fim. "PARABÉNS!"