terça-feira, 29 de janeiro de 2013

ELUCUBRAÇÕES DE UM ANIVERSARIANTE TRINTÃO


Hoje completo 31 anos. Pois é, TRINTA E UM anos. O aniversário é uma coisa muito estranha. Desde que somos crianças aprendemos que temos que comemorar e festejar o tempo passando. Não sei, quanto mais aniversários passam, mais se aproxima o fim da vida (para não dizer morte. Não gosto dessa palavra), e por isso sempre achei estranho cantar o “parabéns”.
O tempo passando é a inexorável força da natureza, que nos conduz à revelia de nossa vontade. Você pode parar todos os relógios, ignorar a noite e o dia, fingir que não existem os meses e anos, mas não adianta, ele está lá: o tempo. E não parado! Ele é metódico, caminha com passos nem largos e nem curtos, sempre na mesma velocidade, pois ele não precisa correr. Sempre atingirá seu objetivo.
Como ainda faço parte dessa sociedade ufanista, rendo-me a certos caprichos padronizados, por isso farei um churrasco (com cerveja, para encher de frescor dourado meu interior) com familiares e alguns amigos, para “comemorar” 31 anos passados de minha vida.
Quando eu era criança, a festa era de salgadinhos, docinhos e refrigerante, e eu até gostava, pois ganhava presentes à beça (pois é, já fui capitalista – será que não sou mais?). Eu não gastava nada e pensava que tudo acontecia de graça. Hoje “comemoro” 31 anos, não ganharei presentes como antes, não terá docinhos e a festa é por minha conta. Estranho, não? Comemorar algo que ainda não tenho certeza que é bom e ainda tirar dinheiro do bolso para isso. Não que eu seja doente pelo dinheiro, mas para quem pouco tem...
Desculpe me repetir, mas estranho. Hoje o aniversário terá muitas das mesmas pessoas da infância e outros novos. Mas não dá para comemorar. A cada ano vejo meu pai mais velho (velho mesmo, e ele sabe disso, não me venham com essa coisa de “a melhor idade”), mais cansado, mais debilitado, com mais dores, com mais pelos e cabelos brancos, e com menos saúde. Minha mãe a mesma coisa. Mas eles ainda estão lá, dispostos a comemorar o aniversário dos filhos (no plural porque tenho uma irmã gêmea, a Priscila). Quiçá por isso valha a pena estar presente no meu aniversário. Para ver meus pais, embora não viçosos como anos atrás, mas com o mesmo amor.
Olho para trás e vejo já uma história de vida, uma lógica (?), um caminho traçado. Ela poderia ser diferente? Sim! Poderia ser melhor? Sim! Mas também poderia ser pior. Sou resultado das escolhas que fiz, muitas delas acertadas, outras tantas equivocadas, e algumas absurdas. Mas as fiz, não tem como voltar atrás. Tem como mudar daqui para frente, mas o que foi escrito no tempo não se apaga. É como se tivesse sido gravado a ferro quente em nossa pele.
Muitas pessoas passaram pela minha vida. Umas ficaram na memória, outras se perderam em algum lugar no passado. Poucas marcaram de verdade. Dessas últimas sinto muita falta. Outros sujeitos dessa história se foram. Abandonaram a vida.
As que chegaram a certo momento da minha jornada e ainda fazem parte dela também têm papel importante, afinal, amizade, amor, paixão, carinho, cumplicidade, proximidade são elementos de apreciação. Obvio que esses sentimentos são transitórios, inconstantes, passam por tempestades violentas, muitos racham, outros quebram sem conserto. Mas estão lá, conduzidos por pessoas que também possuem suas próprias histórias e caminham, como a mim, para o final.
Pois é, 31 anos! Daqui a pouco estarei presente na casa dos meus pais para não comemorar meu aniversário. Decidi! Não tem porque fazer isso. Não louvarei meu cabelo caindo, as rugas chegando, o vigor da juventude me abandonando. Ah, ela, a juventude! Ainda que eu a agarre com toda força, escapa-me entre os dedos. É como segurar água. Não consigo retê-la. Tento acumular um pouquinho na palma da mão, mas sei que minhas mãos vão cansar e derrubá-la, ou senão ela vai evaporar. Ela está partindo, pouco a pouco, dia a dia, minuto a minuto, aniversário a aniversário...
Agora tenho que tomar banho preparar a carne e me certificar se a cerveja está gelada. Afinal, se o tempo não para, como dizia Cazuza, vou continuar minha caminhada nessa jornada que já sei o fim. "PARABÉNS!"