É Lamentável o cenário que se
desenha nessa greve das instituições federais de ensino. De um lado um governo
que nasceu e cresceu em meio a greves (sendo o Lula o grevista mais conhecido
da história do país), tendo, por exemplo, como ministro da Educação, um dos
fundadores da ANDES (maior dos sindicatos representativos dos docentes) e, como
ministra do Planejamento, Orçamento e Gestão, Mirian Belchior, que anuncia aos
quatro ventos que na Europa estão reduzindo gastos com funcionalismo público
enquanto aqui, “absurdamente” movimentos pedem reajustes salariais. Se alguém
tiver o trabalho de acessar o Portal da Transparência, deparar-se-á com os
vencimentos da ministra, que ultrapassam com folga, já com os descontos,
R$33.000. Parece fácil lançar-se à verborragia vazia, quando a sociedade não se
esforça para ter o mínimo de senso crítico. Parece mais fácil ainda quando se
faz parte da classe política mais bem paga de todo o planeta. E claro, não
podemos esquecer que o senhor Aloísio Mercadante, ministro da Educação,
anunciou aos quatro ventos, sem sequer corar seu rosto de antigo grevista, que
o reajuste aos professores, no montante de R$3,9 bilhões – para 2015 -, poderia
colocar em risco as finanças governamentais.
Do
outro lado a classe dos docentes (técnicos administrativos também, mas para não
incorrer em elucubrações incautas, por não conhecer a fundo, não tocarei nesse
setor tão importante quanto o docente), uma das únicas carreiras “esquecidas”
nas reestruturações das carreiras federais promovidas pelo governo até 2008.
Todas as categorias tiveram exponenciais melhorias ao passo que o trabalho
docente ficou travado. Qualquer funcionário apenas com graduação hoje tem
proventos consideravelmente mais altos que professores doutores. Sem mencionar
que o REUNI expandiu as vagas e as universidades sem garantir a mesma expansão
no financiamento da educação. Faltam professores, prédios, laboratórios,
bolsas, técnicos etc. Os servidores da educação estão sobrecarregados, sem
poder garantir o tripé básico para uma educação de qualidade: ensino, pesquisa,
extensão. A proposta do governo apresentada no dia 13 de julho demonstra isso
sem pudor algum. Tanto que ali pretendem aumentar a carga horaria em sala de
aula, o que minora o potencial de pesquisa e extensão dos professores. Ou seja,
no Brasil, os governantes acreditam que educação se resume a ensino, e depois
não sabem porque amargamos a 88ª posição no ranking educacional mundial.
Mas
para não onerar o tempo de vocês – assim como pretensamente o investimento em
educação, nas palavras dos ministros, oneraria o país -, vamos a alguns
números básicos. Primeiramente tenham em mente que, o impacto, para 2015 (daqui
a 3 anos), do reajuste para os docentes, de acordo com a famigerada proposta do
governo, é de R$3,9 bi.
Apenas
nos 5 primeiros meses de 2012, a DELTA, construtora mais do que mergulhada em
corrupção, recebeu do governo R$226 milhões. Acabou de ser aprovado aumento de
30% da verba de gabinete de deputados federais. Passou de míseros R$60 mil para
R$78 mil, o que resultará num impacto, só referente ao reajuste, de R$115
milhões até o fim do ano. Atentemos para a quantidade de deputados (513) e de
professores (milhares) no país, para ter noção do absurdo desse montante (e
para quem tem um pouco mais de malícia, reflitam sobre a importância de cada
função).
Enquanto o
governo dizia que não poderia dar o reajuste para 2013 porque R$3,9 bi era
muita coisa para o governo, na última terça-feira (17/07), a farra dos
deputados aprovava, na Câmara, duas MPs que vão transferir mais de R$60 bilhões
a setores privados em forma de isenção de impostos, créditos e subsídios. Houve
uma imensidão de emendas nas MPs, para beneficiar construtoras, agricultores,
empresas de transportes etc (será que esses beneficiados financiaram campanhas
desses deputados?). R$60 bilhões!!! E
R$3,9 para a educação vai quebrar o país!.
Custo dos
Estádios para a Copa do Mundo? R$7 bilhões (dos quais 97% de recursos
públicos). Para os defensores ciclopes e míopes dos “benefícios” da Copa (que
terá 90% de estrangeiros assistindo os jogos dentro dos Estádios devido ao
custo dos ingressos), só a arena de Brasília custará 1 bilhão. Local onde não
há sequer um campeonato tradicional que atraia torcedores. A média de público
em jogos na capital da República não chega a 2 mil torcedores. Nem, vou citar
os estádios do Amazonas e Mato Grosso para não preocupa-los demais.
Para não
cansá-los muito, vou finalizar apresentando os juros pagos pelo governo a
especuladores internacionais e nacionais. Segundo dados recentes, 47% do PIB
brasileiro é remetido a pagamentos de juros. O PIB de 2011 foi da monta de
R$4,1 trilhões (façam as contas). Nesse exato momento (21/07/2012, às 9:51) o
governo já cedeu a especuladores, apenas em 2012, R$125 bilhões (há todo o
resto do ano ainda). Dinheiro suficiente para manter 57 milhões de crianças na
escola, ou construir 2,2 milhões de casas populares ou ainda pagar 200 milhões
de salários mínimos. Para manter esse paraíso aos banqueiros internacionais e
nacionais, pagamos as taxas mais altas de juros do planeta, os impostos mais
altos do mundo e somos o país mais caro da Terra para se viver (sem exagero).
Quem dera nossa educação, saúde e segurança tivessem tamanhos números...