sábado, 23 de março de 2013

Eu tenho um sonho


Nestes últimos dias assistimos a mais uma prova de que a utopia de um mundo melhor, mais justo e humano, desintegra-se em meio às raízes podres fincadas no solo lamacento da nossa vida social e política. O ranço de ignorâncias presente em figuras poderosas e nações autoritárias remete-nos às idéias do filósofo iluminista Rousseau, que atestam a corrupção da moralidade humana no momento em que os homens passaram a viver em sociedade. "Homo homini lupus" (o homem é o lobo do homem), já proferiu Hobbes certa vez. Contudo, Voltaire não nos deixa esquecer: foram os homens que corromperam a natureza, pois eles não nasceram lobos, tornaram-se lobos! Agora pergunto: a nova situação geopolítica mundial, na qual Coréia do Norte e EUA ameaçam o mundo com uma guerra nuclear, não celebra a estupidez humana, como já ironizou há tempos o gênio Renato Russo? E mais, Obama, Berlusconi, Cameron, Kim jong-Un etc, são ou não lobos em pele de lobos?
            Os vários exemplos de sandices como torturas, ameaças, racismos, intolerâncias e genocídios ocorridos no cumulativo processo histórico não desapareceram e, agora, emergem num vórtice de relações de poder inconsequentes e egoístas. Se uns entram para a história por seus atos memoráveis, outros com certeza serão eternizados pelos seus atos deploráveis; as mazelas enraizadas no imaginário coletivo pelas consequências de suas tolices habitarão os sonhos mais horrendos de gerações futuras. Como podemos ainda aceitar tais bizarrices no comando do poder mundial? E pior: o norte-americano, entrincheirado no seu fundamentalismo “democrático”, ceifa vidas de crianças mundialmente, quando não pela violência direta, pela violência econômica, social e cultural, sugando-lhes o fio de vida que ainda resta, ao sepultar-lhes a esperança de um futuro justo!
            Desacreditar nesse futuro é aceitar que a justiça social é pura utopia. Ledo engano: não apenas a social, como a econômica, a política e a cultural são possíveis. Não se trata aqui de ufanismos como o de “ame a humanidade”, pois isto não é uma tarefa árdua. O que é a humanidade, afinal? É fácil ter compaixão por uma criança angolana que agoniza de fome ao mesmo tempo em que é devorada por uma ave carniceira. Mas o que podemos fazer não é mesmo? Ela está tão longe. Mas é claro que todos se compadecem de seu sofrimento. Como diz uma frase de Henry Fonda, e que deveria incomodar a todos, “É fácil amar a humanidade; difícil é amar o próximo”.
            Se a humanidade quer ter um futuro reconhecível, não pode ser pelo prolongamento do passado ou do presente. Se tentarmos construir o terceiro milênio nestas bases, vamos fracassar, e o preço do fracasso será a escuridão! Neste momento lembro-me de um lindo discurso de Martin Luther King, levado a cabo em 1963, que apesar de tratar do racismo, poderia ser pensado em todas as esferas citadas, e que dizia mais ou menos o seguinte: “Eu tenho um sonho. O sonho de que um dia o homem não seja julgado pela cor de sua pele, mas pela nobreza de seu caráter...”. Nem por sua opção sexual, religiosa ou política... Quimeras... (?!)

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